O que é o terror slasher e por que ele voltou mais mortal do que nunca

By admin

No mesmo dia em que conversei com Don Mancini, criador de Chucky, em outubro de 2021, Halloween Kills estreou no Brasil. Na mesma semana, um trailer do novo Pânico foi revelado. Há pouco tempo, havia visto A Lenda de Candyman, na minha primeira cabine de imprensa desde o início da pandemia da Covid-19. E, claro, a gente estava ali para falar da nova série do Brinquedo Assassino, disponível no Star+.

Desde o surgimento e popularização, entre as décadas de 1970 e 1980, o fã do terror slasher nunca esteve tão bem servido. Mas afinal, o que é esse subgênero? Qual é o primeiro slasher lançado? Quais características tornam um filme de terror um slasher? E por que os emblemáticos serial killers estão em evidência mais uma vez?

Existem alguns elementos que um filme de terror deve possuir para ser considerado (ou se considerar) um slasher. Vamos ao bingo:

Se o filme de terror que você tiver visto tiver dois ou mais elementos acima, ele tem grandes chances de ser um slasher.

Não existe uma unanimidade para estabelecer qual foi o primeiro filme de terror slasher – no entanto, muitos dão créditos ao primeiro Halloween (1978) de John Carpenter, que moldou o subgênero e os filmes que sairiam nos anos seguintes. Sexta-Feira 13 nada mais é do que uma cópia assumidamente encomendada de Halloween. Depois, claro, a franquia encontrou sua própria personalidade.

Outros dois filmes entram na disputa: Noite do Terror e O Massacre da Serra Elétrica, ambos de 1974. Há quem diga também que Psicose (1960), de Alfred Hitchcock, e A Tortura do Medo (1960), de Michael Powell, tenham sido slashers antes de seu tempo. Outros optam por classificar estes três últimos exemplos como proto-slasher.

Se a década de 1980 viu o auge do slasher no cinema, com sequências à rodo de Halloween e Sexta-Feira 13 e o surgimento de A Hora do Pesadelo de Wes Craven, os anos 1990 enfrentaram o inevitável desgaste do subgênero. Um respiro em meio à saturação foi Pânico, também de Craven com o roteirista Kevin Willianson. Ghostface veio para satirizar a fórmula ao mesmo tempo em que homenageia o terror.

A virada dos anos 2000 para os 2010 foi testemunha do que seriam tentativas de sobrevida do slasher com os reboots de Sexta-Feira 13 e A Hora do Pesadelo, além de Pânico 4. A pausa nas sequências intermináveis, bilheterias fracas e uma recepção majoritariamente negativa colocaram o subgênero para dormir – era a vez do terror sobrenatural de James Wan assumir o comando. Até que Michael Myers decidiu voltar em 2018 para liderar este ressurgimento do slasher. Ele, sempre ele.

“Estou amando esta semana, e não só pelo meu personagem. Mesmo sem o Chucky, eu estaria bem empolgado”, disse Don Mancini, naquela semaninha de outubro de 2021, enquanto concordava com a minha afirmação: estamos vivendo o melhor momento do terror slasher desde os anos 1980.

“É um momento ótimo para os fãs de terror. Estamos em uma era de nostalgia. Parte disso se deve ao fato de que estamos vivendo um momento bastante difícil mundialmente. Os últimos anos de pandemia foram sem precedentes”, afirma o criador de Chucky e, previamente, fã e consumidor dos primeiros slashers. “É bastante humano e natural olharmos para trás, para tempos que pareciam mais inocentes e menos complicados. As pessoas também estão bem receptivas para retornar a esses vilões da infância.”

“Talvez, nos dê a sensação de controle ou algo do tipo. Sinto que a pandemia é algo pelo qual não temos controle nenhum. Mas, esses vilões, com os quais crescemos juntos, são nossos amigos”, concluiu.

Pablo Miyazawa, jornalista de cultura pop e ex-editor-chefe do IGN Brasil, concorda em partes com Mancini, principalmente no fator nostalgia: “Tudo relacionado à retomada de marcas que foram importantes para a infância das pessoas tem um sucesso quase garantido. E os filmes slasher também são baratos de serem produzidos, há um alto lucro. Vale a pena para estúdios investirem”, diz.

No entanto, para Miyazawa, não é que o slasher esteja mais forte do que antes, simplesmente estamos diante de um reencontro da turma toda. “Temos uma coincidência de várias franquias clássicas do cinema slasher ganhando versões, reboots ou reinvenções. Isso é muito mais um sintoma do estado da indústria cinematográfica, que sofre por conta de limitações, da pandemia e da ascensão do streaming, do que exatamente um motivo especial pro slasher voltar à tona.”

Arthur Eloi, jornalista e host do podcast de terror Não Apague A Luz, atribui a popularidade atual do slasher ao maior acesso ao entretenimento nas décadas de 1970 e 1980: “Justo nesse período em que os filmes de maníaco prosperavam em Hollywood – tanto pelo baixo custo de produção quanto por refletir o pânico da crescente violência nos Estados Unidos –, as pessoas passavam a consumir filmes em casa através do alcance massivo e barato do VHS e da televisão”, pontua.

“Por ser o subgênero de maior abundância da época, e pelo seu apelo simplista da violência gráfica, o primeiro contato com o horror da geração que cresceu com home video foi através dos slashers – mesmo que elas sequer saibam disso”, complementa Eloi. “Basta fazer um exercício: se você pedir para dez pessoas diferentes descreverem um filme de terror, pode ter certeza que boa parte descreverá um filme de maníaco mascarado perseguindo jovens indefesos. A terminologia é irrelevante quando o slasher se estabelece no imaginário popular como a definição de terror.”

 

Eloi chama o momento atual de “nova era de ouro dos slashers”, e explica a bem-sucedida retomada: “O subgênero bebe tanto do legado de Pânico e sua metalinguagem, quanto da intensa violência gráfica que marcou o gênero nos anos 2000. Com essa combinação, filmes como Freaky conseguem conquistar uma nova geração ao entregar experiências igualmente divertidas e banhadas em sangue. Já as franquias clássicas apostas na fórmula de ‘sucessor-espiritual’, que já se provou forte com Star Wars, Caça-Fantasmas e, claro, Halloween e o novo Pânico.”

Mas há uma evolução geral que vai além da violência gráfica pura e crua. “O novo slasher também apresenta bastante ironia e até certa consciência social, com obras que dão um pouco mais de valor à minorias na frente das câmeras e nos bastidores. Muitas produções, como Rua do Medo (da Netflix) ou a série de TV do Chucky, também exploram formatos diferenciados para quebrar a tradicional estrutura de três atos que marcam esses filmes”, diz Eloi.

“No fim das contas, o slasher moderno é a evolução merecida do subgênero, que conserta questões mais problemáticas que eram ignoradas na década de 1980, ao mesmo tempo que engrossa a violência e a acidez”, conclui.

Uma das regras estabelecidas em Pânico é: “cuidado! Atire na cabeça, pois eles sempre voltam”. Em quase 50 anos desde o primeiro Halloween, o slasher se mostrou tão resistente (ou inexplicavelmente imortal, se preferir) quanto o próprio Michael Myers. Seja para rir de si mesmo, se autorreferenciar, experimentar novos formatos e mídias ou até revigorar o terror, ele sempre vai dar um jeito de voltar.

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